terça-feira, 7 de abril de 2020

Maria José Estanco (1905-1999)




Maria José Brito Estanco Machado da Cruz (1905-1999)


Foi a primeira mulher arquitecta, em Portugal. Natural de Loulé começou por frequentar Pintura, em Belas Artes, optando mais tarde pelo curso de Arquitectura, que concluiu em 1942. O Arquivo Distrital de Faro prestou-lhe este ano homenagem por ocasião do Dia Internacional da Mulher, dando conta do seu percurso: “Tentou o ingresso em vários ateliers de arquitectura, porém viu a entrada no mercado de trabalho ser barrada pela sua condição feminista, pelo que se dedicou à decoração de interiores e à criação de móveis". Integrou a direcção do Conselho Nacional para a Paz e o Movimento Democrático das Mulheres Arquitecta e Professora, nasceu em São Clemente (Loulé), a 26-03-1905, e faleceu em Lisboa, a 30-09-1999. Era filha de Joaquim Francisco Estanco e de Maria da Conceição Brito, foi casada com o Pintor Raimundo da Silva Machado da Luz. Maria José Estanco foi a primeira mulher portuguesa a Licenciar-se em Arquitectura, embora, quando entrou para a Escola Superior de Belas-Artes, o tivesse feito para o curso de Pintura. Por razões familiares interrompeu os estudos e esteve no Brasil durante 2 anos, onde assistiu ao nascimento da cidade de Marília, a nordeste de São Paulo, trabalhando com o Engenheiro belga que dirigia a obra. 

Influenciada por esta experiência, quando regressou a Lisboa, matriculou-se em Arquitectura, onde, no final do curso, recebeu o prémio de «melhor aluno de Arquitectura». Assim surgiu a primeira mulher arquitecta portuguesa. No entanto, e apesar de ter sido considerada o melhor aluno em Arquitectura, não conseguia entrar no mundo do trabalho, as mentalidades da época não conseguiam acreditar que uma mulher fosse capaz de realizar um projecto exequível, só os amigos lhe encomendavam projectos. Era tudo tão difícil que começou a dedicar-se à decoração de interiores e à criação de móveis. Gratuitamente, criou na revista Modas e Bordados, uma secção nessas áreas. Concorreu ao Ensino e foi Professora nos Liceus de Dona Filipa de Lencastre, Maria Amália e Passos Manuel. Gratuitamente, deu aulas de Desenho e Pintura no Estabelecimento Prisional do Linhó e, por convite, foi Professora no Instituto de Odivelas, instituição à qual ficou muito ligada afectivamente. Maria José Estanco terminou o curso (parte curricular) em 1935, mas só em 1942 teve oportunidade de defender a tese, que versou sobre o projecto arquitectónico da sua autoria, para o que viria a ser o primeiro Jardim-Escola João de Deus a ser construído no Algarve. No dia em que defendeu a tese teve a presença do Doutor João de Deus Ramos, filho do poeta e autor da Cartilha Maternal. Pertenceu à direcção do Conselho Nacional para a Paz (secção de desarmamento). Em 1977 foi eleita para o Conselho Nacional do Movimento Democrático das Mulheres (MDM) e nesse lugar se manteve enquanto a saúde o permitiu. Colaborou na organização de exposições relacionadas com a actividade política de mulheres democratas. Participou nos Congressos da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) em Praga, na Finlândia e na URSS. Maria José Estanco nunca se reclamou de feminista, mas à causa da emancipação da mulher deu muito do seu esforço, da sua inteligência e sensibilidade, razão pela qual o MDM lhe conferiu, em 1992, a Distinção de Honra do ano. O seu nome faz parte da Toponímia de: Lisboa (Freguesia de Carnide e do Lumiar*); Loulé; Sintra (Freguesia de Algueirão-Mem Martins*).



Arquivo Distrital de Faro



Fonte: “Quem Foi Quem? 200 Algarvios do Século XX”, (de Glória Maria Marreiros, Edições Colibri, 1ª Edição Dezembro de 2000, Pág. 187 e 188)
Fonte: “Dicionário de Mulheres Célebres, de Américo Lopes de Oliveira, Lello & Irmão Editores, Edição de 1981, Pág. 367”

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